*José Roberto de Oliveira
Nesta sexta-feira, 11 de março, o Rio Grande do Sul em conjunto com as Províncias de
Missiones e Corrientes na Argentina e os Departamentos de Itapua e Missiones no Paraguai,
encontrar-se-ão para comemorar uma das páginas mais emocionantes da história da formação
da América – A Batalha de M’Bororé.
As Festividades dos 375 anos da data ocorrerão a partir da 8:30 na fronteira do Brasil com a
Argentina, no rio Uruguai, mais especificamente no município de Panambi-Argentina, do outro
lado do município de Porto Vera Cruz, que se chega a partir do município de Santo Cristo – RS.
Durante o evento às 11:00 ocorrerá reunião dos prefeitos dos três países para discutir um
projeto de integração que está sendo negociado com o BID – Banco Interamericano de
Desenvolvimento, que está interessado em um grande projeto de fundo perdido para
integração econômica e social da macro-região.
Para compreender a Batalha de M’Bororé, marco anti-escravagista nativo da América, é
preciso entender o contexto da formação do projeto Jesuítico-Guarani nas áreas fronteiriças
do MERCOSUL. Primeiro entender o Tratado de Madri que fazia as divisas entre o mundo
espanhol e português, que era uma linha reta entre a atual Laguna em Santa Catarina, ao Sul, e
a Ilha do Marajó ao Norte, ou seja, toda a macro-região pertencia ao reino de Espanha.
A partir de 1609, com a fundação das reduções Jesuítico-Guarani se inicia um processo de
reunir índios para cristianizar. Na primeira fase foram 13 Reduções no atual estado do Paraná,
6 no Mato Grosso, 6 nas áreas entre os rios Paraná e Uruguai e finalmente 18 reduções no
atual Rio Grande do Sul.
Atacadas pelos Bandeirantes Paulistas em busca de escravos para serem vendidos em São
Paulo e Rio de Janeiro, estas reduções se deslocaram para a área entre o rio Uruguai e Paraná,
onde hoje é a Argentina nas Províncias de Missiones e Corrientes.
Foram grandes êxodos ocorridos a partir do ataque dos bandeirantes. Com a falta de estrutura
de combate das reduções jesuíticas foram levados como escravos de 1629 a 1640 cerca de
300.000 guaranis e mortos mais 300.000 nos ataques.
O Padre Montoya foi a Madri em 1639. Obteve autorização para uso de armas,o que era
proibido até então. Em 1641, em 11 de março, quando não foi ainda possível obter fuzis senão
para 300 guaranis, que só possuíam um único canhão, o exército das reduções teve de
enfrentar os mamelucos na Batalha de M’Bororé, nas margens do rio Uruguai.
Da força Bandeirante: “Oitocentos mamelucos, armados de fuzis, tinham vindo em
novecentas canoas, com seus aliados, os tupis, estes em número de seis mil, mas armados
apenas de flechas, lanças e fundas. Dentre essas canoas, trezentas eram grandes, sólidas e
bem armadas”. O exército guarani era chefiado pelo cacique Abiaru. Contava com quatro mil
homens que, à parte dos trezentos fuzis, apenas estavam armados de flechas, lanças, fundas e
macanas.
O combate foi desencadeado por um tiro de canhão que meteu a pique três pirongas dos
mamelucos. A luta neste dia durou até o cair da noite, com pesadas baixas para os tupis.
Batidos na água e perseguidos, os mamelucos refugiaram-se em terra, onde a noite pôs termo
a batalha. Reiniciadas na manhã seguinte, com muito ardor de ambas as partes, terminaram
com a derrota e fuga dos paulistas, que não tiveram mesmo a coragem de bater-se até o
ultimo tupi. Garantiu-se que os guaranis tinham contado apenas seis mortos e quarenta
feridos. Os agressores tinham perdido muitos brancos, dois mil tupis, noventa canoas e batéis.
O Padre Romero afirma que as forças paulistas, se bem que muito superiores, tinham sofrido
em M’Bororé uma derrota tão completa que só escaparam uns trezentos.
Depois de M’Bororé, nunca mais os missioneiros foram superados pelos bandeirantes. Outras
bandeiras que tentaram atacar as reduções nas décadas seguintes tiveram a mesma sorte da
de 1641. Com a estabilização das relações entre Portugal e Espanha e com a importação de
escravos negros que compravam dos xeiques árabes, as bandeiras se dirigiram ao interior do
território brasileiro em busca de ouro e as Missões puderam se desenvolver de forma que
foram chamadas de “Triunfo da Humanidade”, mas esta é uma história para outro dia.
*Pesquisador sobre a história missioneira, Engenheiro, Especialista em Administração e Mestre em Desenvolvimento.
Fonte: José Roberto de Oliveira / Pesquisador - Mestre em Desenvolvimento